quarta-feira, julho 13, 2005
PASSAROLA VOADORA
A capacidade inventiva e a imaginação do padre jesuíta Bartolomeu Lourenço de Gusmão contribuíram para o religioso brasileiro tornar-se famoso, sobretudo por seus inventos engenhosos que o incluem entre os pioneiros da aeronavegação, e um dos precursores da aeronáutica.
Filho do cirurgião-mor Francisco Lourenço e de Maria Álvares, Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu em Santos, SP, em Dezembro de 1685, tomou o sobrenome Gusmão em homenagem ao provincial dos jesuítas no Brasil.
Viveu apenas 39 anos.
Cursou com o irmão, Alexandre de Gusmão, o seminário jesuíta de Belém da Cachoeira, na Bahia, onde se tornou noviço.
O irmão Alexandre chegou a ocupar o cargo de secretário do rei D. João V e tornou-se conhecido como o negociador que consolidou as fronteiras brasileiras expandidas para oeste pelos bandeirantes, anulando o que fora disposto pelo Tratado de Tordesilhas.
Aos 15 anos foi para Portugal, onde se formou em direito religioso, em Coimbra.
Ordenou-se sacerdote da Companhia de Jesus.
Ordenado, mudou-se para Lisboa em 1701, onde realizou estudos de matemática e física mecânica.
Destacou-se como pregador religioso e recebeu do rei Dom João V o cargo de capelão da Casa Real.
Dedicou-se, a partir de então, a seus inventos.
De volta a Salvador, construiu uma bomba elevatória para abastecer o colégio dos padres com a água do rio Paraguaçu.
Foi essa sua primeira invenção.
Concluídos os estudos secundários, embarcou para a metrópole, em 1705 e vindo a matricular-se na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra em 1708.
Aí, desenvolveu notavelmente os seus estudos de Física e Matemática que desde a adolescência tanto o tinham interessado.
Consta que ao observar uma pequena bola de sabão pairando no ar, se inspirou para a concepção de um balão, a bolha ao passar sobre um foco calorífico foi fortemente impelida as alturas, como se alguem a tivsse empurrado.
Tinha em mãos a chave do fenômeno e a explicação que tanto procurava: a leveza do ar quente em relação do ar frio, constituía uma força ascencional irresistível, capaz de erguer um objeto relativamente leve, às alturas.
Desta forma ficou Gusmão sabendo que o ar ambiente, quando aquecido, perdia densidade e tornava-se mais leve e em consequência passava as camadas superiores da atmosfera, subindo sempre, visto como não podia manter-se nas camadas baixas onde paira o ar frio e pesado.
De qualquer forma, logo em 1708 trabalha afincadamente no projecto de um engenho "mais-leve-que-o-ar", em detrimento de tudo o resto.
Entrega então a D.João V a petição de privilégio sobre o seu "instrumento de andar pelo ar", que lhe é concedida por alvará, em 19 de Abril de 1709.
Conjuntamente com o alvará, D. João V decidiu concorrer para os gastos da construção do aparelho, bem como lhe deu a mercê de Lente de Prima de Matemática na Universidade de Coimbra, com um rendimento vitalício substancial.
Era o que Bartlomeu de Gusmão precisava para se dedicar inteiramente ao seu projecto, como na realidade o fez, na quinta do duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira.
As fontes da época revelam a utilização de muito arame na construção (o balão de Gusmão não era um simples balão de papel de feira) bem como a realização de várias experiências com balões de papel até se chegar à experiência definitiva que a história registou.
De volta a Portugal, após uma exibição pública em Lisboa, apresentou a D. João V uma petição de privilégio, na qual dizia haver inventado, um aparelho voador, capaz de fazer "200 e mais léguas por dia", deixando imprecisa e incompleta a definição do formato, do aparelho, material de construção e modo de funcionamento.
Conforme o historiador Afonso Taunay observou, a publicação do alvará que concedeu tal privilégio em 17 de abril de 1709 constitui ratificação régia do êxito da exibição.
São assim imprecisas e contraditórias as notícias sobre as experiências com o engenho, denominado "Passarola" ou "Balão de São João".
Consistia numa esfera de papel, no interior da qual ardia uma chama.
Alguns testemunhos dizem que na primeira apresentação, diante do rei, o balão subiu efetivamente a uma altura de 4,60 metros antes de queimar-se.
Outros informam que o engenho era uma armação de vime coberta de papel que teria subido a uma altura de sessenta metros, a mesma da torre de Lisboa.
Alguns autores revelam que em 5 de agosto de 1709, o Padre jesuíta Gusmão realizou, perante a corte portuguesa, no pátio da Casa da Índia, em Lisboa, a primeira demonstração da Passarola, uma máquina de voar, espécie de balão, que havia concebido e construído.
O balão pegou fogo sem sair do solo, mas, numa segunda demonstração, elevou-se a 4 metros de altura.
Tratava-se de um pequeno balão de papel pardo grosso, cheio de ar quente, produzido pelo "fogo material contido numa tijela de barro incrustada na base de um tabuleiro de madeira encerada".
Segundo Salvador Antônio Ferreira, com receio que pegasse fogo aos cortinados, dois criados destruiram o balão, mas a experiência tinha sido coroada de êxito e impressionado vivamente a Coroa.
O fato é confirmado em depoimento do então cardeal de Lisboa (futuro papa Inocêncio XIII) que referiu-se ao risco de incêndio.
Logo Bartolomeu passou a ser ridicularizado pelos que acreditavam ser ele "sócio do diabo".
Na terceira tentativa, a Passarola, movida a ar quente, teria voado diante do rei e da rainha, na Casa da Índia, e descido no terreiro do Paço, em 8 de agosto de 1709.
A partir de então, famoso, o religioso brasileiro passou a ser chamado de "padre voador", tendo muitos historiadores erroneamente o consagrado como o primeiro aeronauta da história. Bartolomeu Lourenço de Gusmão foi o primeiro, em toda a história da aeronáutica, a construir um balão que subiu livremente na atmosfera, mas não há evidências de que este frágil balão tenha feito um vôo tripulado.
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