quarta-feira, maio 18, 2005

 

MUSEU DA CORTIÇA


A antiga "Fábrica do Inglês", uma unidade industrial do século passado, em Silves, foi transformada num espaço cultural e de animação turística. A criação de um museu por uma empresa privada, num investimento de dois milhões de contos, permitiu resgatar da ferrugem as velhas máquinas da pré-história da era da indústria corticeira. Agora, a par dos espectáculos de raiz andaluz, podem ver-se também as voltas que a cortiça dá até se transformar em rolha.
"Sabem de onde vem a cortiça?" A pergunta, dirigida a um grupo de crianças de Albufeira, por Manuel Ramos, director do Museu da Cortiça, na "Fábrica do Ingês", em Silves, obteve de resposta um simples encolher de ombros. Mas não são apenas os mais novos a ignorar de onde é extraída a matéria-prima para as rolhas que dão a volta ao mundo, nas bocas das bocas garrafas de champanhe ou do vinho do Porto.
A "Fábrica do Inglês", designação que deriva do facto da unidade fabril ter sido gerida durante largos anos por Victor Sadler - "o senhor inglês", como era conhecido entre os operários -, é um dos novos espaços de cultura e animação do Algarve. Do passado, conservou-se o espólio de uma fábrica que funcionou do final do século passado até há poucos anos - entre 1894 e 1997 - e marcou uma época no sector corticeiro .
A partir de Silves, os ingleses exportaram para todo o mundo as rolhas de cortiça, da qual eram os principais consumidores a nível mundial. Agora, no tempo da indústria turística, a empresa de distribuição Alisuper pretende divulgar a riqueza cultural de Silves e assim atrair meio mundo à região. A originalidade deste projecto, onde foram investidos cerca de dois milhões de contos pela iniciativa privada, reside no facto de pretender atrair os turistas, não apenas pelo sol e praia, mas também pela divulgação da cultura. Assim, em tempo recorde, cerca de um ano, foram recuperados os velhos edifícios da fábrica para serem transformados em restaurantes e cervejarias mas, ao mesmo tempo, os investigadores, peça a peça, máquina a máquina, ergueram o Museu da Cortiça, o ex-libris deste parque de animação. O espaço museológico não reflecte apenas a parte material da história da cortiça, mas também dá um importante contributo para as ciências sociais, através do centro de documentação, com abundante informação sobre a influência dos ingleses na região e as lutas sindicais, nos anos quentes do salazarismo.
A descoberta do arquivo histórico - a par da recuperação das máquinas e processos de fabrico - foi um dos trabalhos mais difíceis, dado o volume de documentos disponíveis. Por isso, no campo da investigação documental, a tarefa ainda não está concluída, mas já foram encontradas alguns dos elos que formavam a pirâmide da estrutura social do meio. A influência das ideias políticas revolucionárias no seio do operariado encontra-se registada em livros da gerência da fábrica, com alguns detalhes como, por exemplo, o facto dos corticeiros baptizarem os filhos, como nomes ligados à revolução russa - Marx e Lenine, numa época em que Silves era conhecida pela "terra vermelha", numa alusão às ideias revolucionárias que fervilhavam. in " O Público"

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