sexta-feira, julho 08, 2005

 

MAJESTIC



Mais do que um café, o Majestic conta a história do Porto.
O Porto dos anos vinte, das tertúlias políticas e do debate de ideias.
O Porto da "Belle Époque", dos escritores e dos artistas.
Em Paris, o primeiro Café data de 1667.
Em 1715, já havia cerca de 300.
O mais conhecido era o Procópio, muito frequentado por artistas e poetas.
A moda demorou o seu tempo a chegar a Portugal.
Os primeiros cafés surgiram no Porto em meados do século passado.
Em 1853 apareceu o café Lusitano, que sete anos volvidos se transformou no café Portuense. Era um botequim luxuoso, dos mais notáveis da época, cheio de espelharia, de candelabros e de vários outros arrebiques.
Possuía bilhares e uma sala especial decorada com o mesmo rigor para as senhoras tomarem os sorvetes.
Durante o dia mantinham as mesas sempre ocupadas com os jogos do Dominó, do Bóston, e do Voltarete, enquanto que à noite era muito frequentado por comerciantes.
O Portuense transformou-se no último decénio de oitocentos, no café Suíço, que já no início deste século proporcionava à sua numerosa clientela magníficos concertos por um terceto (piano, violoncelo e contrabaixo) muito famoso na altura.
O sucesso alcançado por este tipo de estabelecimentos tornou-se determinante para o aparecimento de numerosos cafés.
Foi, pois, neste contexto que, em 17 de Dezembro de 1921 pela autoria do Arquitecto João Queirós, abriu um luxuoso café com o nome de Elite, situado na Rua de Santa Catarina, o local mais central da cidade.
Por aí se passeava toda a burguesia para a qual o café se destina, sendo daí o seu primeiro nome: Elite - grande, luxuoso, cuidado e aristocrático.
O novo Café dava continuidade à grande tradição dos cafés surgidos na cidade em meados do século passado.
O dia da inauguração ficou marcado na cidade.
O café teve honras e distinções e recebeu uma visita distinta, o piloto aviador, e mais tarde almirante, Gago Coutinho (que consta sempre acompanhado de belíssimas mulheres), acabado de chegar de mais uma arriscada jornada à ilha da Madeira.
Ficou encantado com o esplendoroso café, agradou-lhe o ambiente, regressando outras vezes, uma das quais na companhia da famosa actriz Beatriz Costa.
Apesar do furor da inauguração o nome não durou.
De Elite muda-se para Majestic, sendo este mais apropriado ao espírito dos seus frequentadores. Não deixa de ser fino, mantêm as referências ao sublime majestático e faz apelo a um certo «chic» Parisience, tão ao gosto da época em que nasceu.
Esse nome só será reconhecido oficialmente a 31 de Julho de 1922, com a entrada de um novo sócio.
Por essa altura, o tempo fluia de outra forma e as pessoas podiam fazer "vida de café".
Era por ali que se encontrava a intelectualidade e os ilustres da cidade.
Nomes como Amadeu Sousa Cardoso, Pascoaes ou José Régio foram presença constante neste café.
Ali se discutiam as mais recentes correntes literárias, e as mais inovadoras correntes artísticas em conversas acaloradas.
O verdadeiro exemplo do café tertúlia.
Outro ilustre cliente assíduo era o filósofo Leonardo Coimbra, muitas vezes acompanhado de alunos interessados em prolongar naqueles assentos de couro as intensas discussões travadas com o mestre.
Depois começaram a chegar os artistas e os estudantes das Belas Artes.
Essa foi uma tradição que não se perdeu e ainda hoje continua a ser procurado por alunos e professores da Escola de Belas Artes do Porto.
Passaram-se os anos, alteraram-se os gostos e todos estes estabelecimentos entram em declínio. A sobrevivência do Majestic esteve ameaçada.
A partir dos anos 60 e até aos primeiros anos da década de 80, o café degradou-se quase irremediavelmente.
A 31 de Agosto de 1981 é decretado "imóvel de interesse público" e "património cultural". Em 1984 passou para a actual gerência que logo à partida tinha o projecto de lhe devolver o esplendor perdido.
Após processo burocrático para que fossem autorizadas as obras, fechou para restauro em Setembro de 1992 para reabrir em 15 de Julho de 1994.
O café é constituído por uma grande sala rectangular onde, em ambos os lados, existem bancos corridos em cabedal gravado, à frente dos quais estão colocadas as mesas e cadeiras.
O certo é que recuperou o esplendor de outros tempos mantendo o seu traçado original em arte nova.
Ganhou novo fôlego com a recuperação dos tectos em gesso pintado de dourado e minuciosamente trabalhados.
Nas paredes encontram-se magníficos espelhos de cristal da cidade de Antuérpia (Bélgica), que orgulhosamente ostentam a pátina do tempo, enquanto que o chão é coberto em mármore indiano.
Ainda entre os espelhos, gessos ornamentam os capitéis das colunas que transmitem um ar requintado.
São colocados bonitos lustres de grandes dimensões e apliques derramam uma luz difusa e as mesas quadradas ostentam tampos em mármore.
As cadeiras são forradas a couro trabalhado com incrustações em mármore.
Recuperam-se as portas imponentes e o jardim de Inverno com ligação à Rua Passos Manuel. Na cave surge uma galeria de arte.
O piano completa a magia deste espaço, e ao som de uma música de fundo viajamos no tempo e regressamos à "Belle Époque". I
Inicia-se assim uma nova fase na longa vida deste café.
A animação volta com recitais de poesia, concertos de piano, exposições de pintura, lançamento de livros, realização de algumas cenas para filmes portugueses e estrangeiros, palco de programas televisivos, etc.
O Majestic recebe prémios e distinções, bem como um recente convite para participar num concurso para o café mais bonito do mundo.
O Majestic tem hoje uma clientela heterogénea, que vai dos habituées, testemunhas dos dias em que só se entrava de fato e gravata, aos turistas, de curiosidade aguçada pelos guias de viagem, passando por todos aqueles que vão adquirindo o costume de viver o café como ponto de encontro privilegiado de lazer e cultura.
E, finalmente o tão famoso chá à Majestic...
O Majestic resulta num projecto único em Portugal, para que se não perca num tempo e continue a ser um lugar privilegiado e agradável num ambiente requintado e discreto restaurado à época para as pessoas que o frequentam e as que vêm ao Porto.
Continua a ser o lugar por excelência de uma elite de apreciadores do café de mesa e da tertúlia. Um privilégio que os hábitos quotidianos dos portuenses dificilmente deixarão perder, além de constituir uma importante obra no que se refere à conservação e bom uso de um
estabelecimento público e cultural no âmbito de uma cidade classificada de Património Mundial.
Posted by Picasa

Comentários:
Perguntava se me poderiam informar de onde é que o autor retirou esta informação Obrigado
 
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