sexta-feira, julho 01, 2005

 

A NAU CATRINETA


Lá Vem a Nau Catrineta
que tem muito que contar
com tricórnio de côr preta
D. José a comandar
D. Costa trata de ver se corre tudo a preceito~
D. Diogo vai escolheros aliados de peito
D. Cunha juntou-se ao Pinho
dois em um, está bom de ver
p'ra contar o dinheirinho
que o baú vai receber
D. Luís limpa os canhões
D. Correia é enfermeiro
a Lurdinhas dá liçõesa
tudo que é marinheiro
D. Jaime é o despenseiro
D. Gago lê as estrelas
D Lino faz de pedreiro
D. Correia limpa as velas
D. Vieira é o tenente
mais queridoda marinhagem
é ele que paga à gente
em cada mês de viagem
D. Pedro de pé à ré
transmite pr'à populaça
aquilo que D. José
ordena pois que se faça
D. Augusto é o papagaio
escolhido p'lo Capitão
D. Alberto é o lacaio
encarregue da prisão
A Dª Isabel de Lima
tem tarefa desgastante
escada abaixo, escada acima
que a cultura é importante
P'ra compôr o ramalhete
das flores do Capitão
só faltava o mandarete
quem é ele?...D. Lacão
É esta a tropa fandanga
que promete à Catrineta
que o discurso da tanga
já foi posto na gaveta
Com estes novos doutores
vai ser um sempre a aviar
ouvi agora senhores
uma história de pasmar
Andava a Nau navegando
ao largo do mar da palha
quando se ouve alguém gritando
"Ó da guarda, Deus nos valha"!
De tal forma cruciante
aquele grito ecoou
que toda a turba num instante
no convés se amontoou
Mas quem seria o autor
de um tão pungente grito?
que mais parecia o estertor
de um moribundo aflito?
Fora D. Cunha, o tenente
o guardador do baú
findo o balanço corrente
olhando as contas a nú
Entre o deve e o haver
estava ali escarrapachado
para quem quisesse ver
um buraco bem espaçado
Sete por cento!!! bem medido!
quem ousaria dizê-lo?
nem mesmo o mais destemido
se atreveria a fazê-lo!
Se em tempos de D. Burroso
serviu a tanga de véu
com D. José, o charmoso
estava a Nau de rabo ao léu
Não havia mais pilim
nem para comprar um pão
e à vista de um triste fim
chamaram o Capitão
-Mas D. Cunha, que se passa?
haveis visto algum fantasma?
estais com cara de desgraça...
por acaso sofreis de asma?
Porque estais tão ofegante
suando como um cavalo?!...
comestes algo picante
e não quereis vomitá-lo?
Antes fosse, D. José
meu senhor e Capitão
o que me pôs neste pé
com o coração na mão
Não foi fantasma ou comida
nem asma, podeis vós crer
foi topar que a nossa vida
vai abanar a valer!
Não há um chavo na arca
nem uma chapa furada
o que será desta barca
só Deus sabe e não diz nada
Dizei qual a soluçãoque tendes na cabecinha
nem massa temos p'ró pão
ou p'ra fazer a sopinha!
Tende calma meu amigo
algo se há-de arranjar
no mais eminente perigo
não costumo recuar
Onde vamos arranjar
o pilim que está em falta?
É fácil, vamos taxar
com uma taxa mais alta! ...
-Mas senhor, e a promessa
de não subir a parada?...
- Mas a sorte foi avessa
não posso cumprir mais nada!...
- Já pareceis o D. Burroso
com o discurso da tanga!...
-Cale-se aí seu ranhoso
se calhar sois seu capanga!
Nós somos muito diferentes
desses laranjas, em suma...
-Então explicai às gentes
porque não vemos nenhuma!
É sempre o mesmo fadinho
em tons maiores ou menores
paga sempre o mais baixinho
as asneiras dos doutores
Seja com o fado da tanga
ou com o fado social
trazem sempre algo na manga
p'ra lixar o pessoal
Com a rosa e a laranjinha
lá vai em frente a cegada
cantando a desgraçadinha
em jeito de desgarrada
Só que um dia, D. José
a malta vai dizer basta!
e dar-vos um pontapé
bem assente na canastra
Nunca mais nos vendereis
o peixe podre encoberto
e a saber ficareis
se o povo é parvo ou é esperto

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