sexta-feira, agosto 05, 2005

 

JOHN HUSTON


Neste tempos em que cinema é sinônimo de indústria, e os cineastas são, cada vez mais, homens de negócios, a obra e a vida de John Huston assumem um caráter definitivamente romântico.
Huston viveu intensamente, fez filmes mais intensos que a própria vida e, sem nunca ter merecido todo o crédito que merece, nos deixou um legado extraordinário, que é parte fundamental da história do cinema.
Seu estilo foi humanista por excelência.
Em suas mãos, diversos actores alcançaram desempenhos muito acima do que mostravam em outros filmes, porque, para Huston, ou o personagem era de verdade, e tinha cheiro de ser humano, ou não era nada.
Não é a toa que sua galeria de perdedores é imensa, enquanto a de heróis é bastante limitada. Filho do actor Walter Huston, nasceu no dia 5 de Agosto de 1906 e cresceu dividido entre o mundo intelectual (escrevia e fez pequenas pontas em filmes) e o mundo "de verdade": lutou box e aprendeu a andar a cavalo. Depois viajou bastante, adquirindo assim uma experiência cultural que depois se tornaria muito útil em sua carreira. Sua actividade profissional em Hollywood começou em 1938, como roteirista (relativamente tarde, pois já tinha 32 anos), mas, a partir daí, trabalhou num ritmo alucinante.
Em 1941, estréia na direção filmando "Relíquia macabra", com Humphrey Bogart, hoje um clássico absoluto do cinema "noir".

As marcas pessoais de Huston já são evidentes neste filme: pessimismo, sem perder a ironia; romantismo, sem perder a realidade de vista. Em 1947, depois da guerra (durante a qual fez três documentários) roda mais um clássico, "O tesouro de Sierra Madre", história de aventura, em que, mais uma vez, os heróis não têm força suficiente para controlar o destino.
Em 1952, com "Uma aventura na África", consagra-se como grande director de actores, criando um dos casais mais conhecidos do cinema, Katharine Hepburn e Humphrey Bogart, ambos em desempenhos fantásticos.
Hollywood aposta no talento de Huston, aumentando seus orçamentos e convencendo-o a dirigir super-produções, como "O bárbaro e a gueixa" e "Moby Dick".
Neste último, volta a acertar a mão, obtendo um clima perfeito para a adaptação do livro de Melville, além de dar mais uma aula de direção de actor, desta vez consagrando Gregory Peck como o obstinado capitão Ahab.
"Os desajustados", realizado em 1961, mostra uma Marilyn Monroe tão talentosa quanto desesperada, numa história muito triste escrita por seu marido, o dramaturgo Arthur Miller.

A partir daí, nas décadas de 60,70 e 80, Huston parece oscilar entre a sua vontade e a dos estúdios, pois alterna filmes nitidamente pessoais com obras de encomenda.
Não se vê muito de Huston em "A lista de Adrian Messenger" (1963), nem em "Casino Royale" (co-direção, 1967), ou "Carta ao Kremlim" 1970).
Muito menos no fracassadíssimo "Fuga para a vitória" (1981), em que dirigiu Pelé numa história absurda, quase patética.
Mas, quando tinha as rédeas nas mãos, Huston ainda era capaz de construir seus clássicos. "O homem que queria ser rei" (1975) é uma aventura baseada em Kipling, retomando o estilo de "O tesouro de Sierra Madre".
"Cidade das ilusões", filme "pequeno" no orçamento e nas pretensões comerciais, é uma obra-prima sobre boxeadores fracassados, com a inesquecível canção "Help Me Make It Through the Night", de Kris Kristofferson, nos créditos inciais.
No fim da vida, com o rosto e o corpo já marcados por todas as brigas que venceu e perdeu, pelas bebedeiras que tomou, pelos jogos de cartas em que apostou tudo o que tinha e pelos muitos amores que viveu, ainda teve energia para fazer mais três clássicos: "À sombra do vulcão", "A honra dos poderosos Prizzi" (em que brilha sua filha Anjelica) e "Os vivos e os mortos".
Neste último, teve a suprema audácia de adaptar James Joyce.
E com sucesso!
Ninguém poderia pedir mais a este homem selvagem.
Posted by Picasa

Comentários:
"...cheiro de ser humano..."
É isso que o nosso cicema perdeu...e o pior é que a sociedade também!
 
ce vero...
 
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