Para uns, poiso de "betos", para outros, espaço com "bom ambiente", a praia de Moledo, em Caminha, há muito que disfruta de invejável "currículo", sendo, por isso, muito concorrida.De dia e de noite. De Verão e de Inverno.O caminho-de-ferro tornou mais fácil o acesso a uma estância balnear que viria a consagrar-se nas primeiras décadas do século passado, sendo, até hoje, da escolha de muitos. Durão Barroso, Mariano Gago, o maestro António Vitorino de Almeida e o constitucionalista Jorge Miranda contam-se entre as personalidades que buscam, em Moledo, energias para um novo ano de trabalho. Nada que o actor norte-americano Donald Sutherland não o tivesse feito."Moledo é, mesmo, a única praia que frequento. A minha terra é Lisboa, mas habituei-me de tal forma a viver ali que é como se fosse minha. Passo lá as férias desde criança", contou, a propósito, o maestro Vitorino de Almeida que, com o médico António Barge, lançaram, há três décadas, o primeiro Festival de Vilar de Mouros, cuja edição deste ano tem lugar este fim-de-semana."Esta sempre foi uma praia procurada por colunáveis", destacou Filipe Castro. Nascido há 64 anos, na vizinha freguesia de Cristelo, referiu-se a Manuel de Aguiar, um antigo catedrático da Universidade de Coimbra, como um dos "grandes impulsionadores" da estância balnear."Moledo é especial porque é especial. Tem um ambiente muito bom e a procura da praia deve-se muito a isso. Costumam dizer que é praia de "jet-set", mas discordo disso", destacou Alice Garcia, de 25 anos. Ao balcão de um bar situado junto à praia, a jovem considerou que a fortaleza da Ínsua e a proximidade da Galiza fazem do espaço natural um "local único e muito bonito".Da mesma opinião, Manuel Peixoto, de 50 anos e residente em Braga, destacou a limpeza do espaço e o civismo dos utentes, conceitos partilhados por Glória Silva, de Valença: "Gosto muito de aqui estar. É um local muito bonito e, ao que dizem, saudável, rico em iodo. O ambiente também ajuda, Há sempre muita gente de fora que passa férias aqui, pelo que a festa prossegue noite dentro".Quando o sol se põe, a animação transita para os bares da marginal, que chegam, por vezes, a cativar mais interessados que o próprio areal, durante o dia. "É esse conjunto que torna a praia perfeita. A facilidade de estacionamento e a beleza do espaço, situado junto à Ínsua, contribuem para esse sucesso", vaticinou.De facto, a desembocadura do Minho, em que se destaca a fortaleza, exerce elevado fascínio sobre residentes e visitantes. Reza a lenda que, no local, teria existido um templo pagão, convertido em ermida, durante o Cristianismo, e, posteriormente, em fortaleza. O templo primitivo, do tempo da ocupação romana, era dedicado a Saturno, deus das sementeiras que continuará a velar pela beleza de Moledo.
Areal diminui de tamanhoNão há bela sem senão. A sedução exercida por Moledo junto de muitos encontra um infeliz paralelo na diminuição do areal da praia, situação que se vem verificando, com mais intensidade, nos últimos anos.Aludindo ao problema, Filipe Castro, de 64 anos, natural de Cristelo, que aprendeu a nadar no espaço natural, destacou: "Quando era miúdo, a praia tinha um areal de 300 ou 400 metros. Hoje, tem cerca de 50 e continua a diminuir. Isto é lastimável e precisa de ser corrigido, sob pena de desaparecimento da praia".Para José Gualdino, da associação ambientalista COREMA, de Caminha, há uma multiplicidade de factores que contribuem para o emagrecimento do cordão dunar. Referindo-se a estudos realizados no estuário do rio Minho, disse que essas análises "permitem estabelecer uma ligação entre a extracção de inertes no rio, para a manutenção do canal de navegação do ferry-boat, e o desaparecimento do cordão dunar". A propósito, salientou: "Se o mar não recebe a areia dos rios, vem buscá-la à costa, reduzindo, assim, o cordão dunar".

Luis Oliveira in JN

# autor Acácio Simões @ 19:50