sexta-feira, outubro 21, 2005

 

ALMIRANTE NELSON


Posted by Picasa De pé, na zona avançada do convés do tombadilho do HMS Belleisle, a única coisa que ocorria ao segundo-tenente Paul Nicolas era deitar-se no chão. Não se sentia cansado, mas tinha apenas 16 anos e conhecia mal o navio. Preparava-se para experimentar pela primeira vez o cheiro de uma batalha. Passava pouco do meio-dia de 21 de Outubro de 1805, e o vaso de guerra navegava perto de Cádis, no Sul de Espanha. Enquanto o Belleisle sulcava as águas, direito ao inimigo, Nicolas conseguia ver uma linha em forma de crescente formada por 33 navios de combate franceses e espanhóis ao longo de várias milhas, desde o cabo Roche até ao cabo Trafalgar.Entre a guarnição do Belleisle, vivia-se um ambiente de excitação: há mais de dois meses que os marinheiros aguardavam a oportunidade de dar uma lição a “Johnny Crapaud”,alcunha depreciativa que atribuíam aos franceses. Os artilheiros tinham escrito a giz nos canhões: “Vitória ou Morte”. Nessa manhã, bem cedo, a fanfarra do navio tinha tocado músicas patrióticas.O comandante do Belleisle, William Hargood, ordenou aos membros da guarnição que se deitassem no chão, quando os primeiros disparos começaram a embater contra o aparelho do navio. Perto do tenente Nicolas, um jovem recruta foi decapitado por uma bala de canhão. Nicolas teria dado um pedaço de si para deitar-se também no chão, mas ocupava o segundo lugar na hierarquia de comando de um destacamento de fuzileiros e, como oficial, era obrigado a manter--se de pé. Por isso, chegou-se mais ao subtenente John Owen, menos graduado mas ligeiramente mais velho. Anos mais tarde, Nicolas escreveria que o ânimo de Owen “me encorajou a cumprir o dever que me tocava”.Encorajou-o igualmente ver, cruzando os mares, a silhueta do HMS Victory, o navio almirante da frota britânica, com cem peças de artilharia, comandado pelo almirante Lord Nelson. Nicolas nunca travara conhecimento com Nelson. No entanto, tal como qualquer outro homem na Real Marinha de Guerra Britânica, ouvira contar histórias – a forma como Nelson capturara um navio espanhol e dele se servira para abordar e capturar um segundo navio; o incidente que lhe custara o braço, na chefia de um ataque nocturno contra Tenerife; o modo como aniquilara a frota francesa na baía de Aboukir, sete anos antes. Com Nelson no comando, o desfecho era certo. Nessa manhã, bem cedo, Nelson ordenara que fossem hasteadas bandeiras de sinais que transmitiam a seguinte mensagem: “A Inglaterra espera que cada homem cumpra o seu dever.” As vozes da frota inteira ergueram-se em aclamação.O combate travado foi sangrento e nada parecido com as descrições dos manuais escolares, onde as frotas se alinham lado a lado e se intimidaram uma à outra com bordadas de artilharia. Nelson dividira os 27 navios de linha da frota britânica em duas colunas e ordenara-lhes que rumassem direitos à linha inimiga, cortando-a em duas metades, como uma alcateia de lobos a investir contra uma manada de veados.
Logo a seguir ao Royal Sovereign, o Belleisle era o segundo navio da esquadra de sotavento, comandada por Cuthbert Collingwood. Este homem reservado e estudioso ansiava por regressar à sua horta em Northumberland para plantar couves e batatas, preferindo a companhia do seu cão, Bounce, à da maioria dos outros homens. Nessa manhã, o seu criado, John Smith, levara Bounce para o porão e deixara-o preso para sua protecção. O plano de Nelson tinha uma falha potencialmente fatal. Ao rumar directo à frota do inimigo, iria contrariar uma regra essencial da guerra naval: cortar o T. Nos 20 minutos da aproximação, os seus navios estariam ao alcance das bordadas do inimigo. Se o vento soprasse por detrás, o tempo poderia reduzir-se a dez minutos, mas o vento amainara. O Belleisle movia-se devagar.O fumo saiu dos canhões inimigos, seguido de um rugido feroz quando vários navios abriram fogo em simultâneo sobre o Belleisle. Madeiras da mastreação esmagavam-se sobre o convés. Homens gritavam de dor. Paul Nicolas susteve a respiração e tentou não pensar em deitar--se no chão. Desde 1793 que a Grã-Bretanha estava em guerra com a França, apesar das tréguas intercalares de 1802. Um ano mais tarde, desencadearam--se novas hostilidades. As guerras napoleónicas, como viriam a ser conhecidas, assumiram um novo tipo de conflito: guerra ideológica, movida por um espírito de animosidade profunda. Para Nelson, Napoleão representava o demónio em figura humana. Nelson acreditava com paixão que fora chamado pelo seu país, e por Deus, para defender a Inglaterra da tirania.

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