sexta-feira, março 17, 2006

 

A BEZERRA VITÓRIA


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Vitória foi a primeira bezerra clonada no Brasil, mas não será a última. Pelo menos seis centros universitários trabalham em clones bovinos que podem nascer nos próximos meses, com a missão de melhorar a produtividade agropecuária.
Desde outubro de 2001, a clonagem no Brasil tornou-se assunto de telenovela. A Rede Globo produziu O Clone, onde o personagem central é duplicado por descuido de um cientista, que tenta escondê-lo durante anos.
Milhões de telespectadores seguem a história, que alimenta, mas também distorce, o debate nacional sobre clonagem.
O que poucos deles sabem é que, longe dos reflectores e em pelos menos seis centros de pesquisa, cientistas brasileiros continuam seu trabalho de clonagem de bovinos, sobretudo com fins voltados à productividade agropecuária, promovido pelo sucesso da primeira bezerra clonada.
No dia 17 de março de 2001, o Brasil converteu-se no pioneiro da clonagem de animais na América Latina, com o nascimento de uma bezerra, baptizada como Vitória da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Ela é fruto de um trabalho pioneiro do Centro de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), instalado em Brasília e um dos 40 institutos da Embrapa.
Vitória nasceu pesando 50 quilos. Foi desmamada aos sete meses e é “grande, mas normal”, segundo os parâmetros da raça Simental, de origem suíça, à qual pertence, disse o veterinário Rodolfo Rumpf, coordenador do projecto.
Os especialistas pretendem observar atentamente suas características, em especial a fertilidade e a capacidade de reprodução normal. A clonagem foi feita através de eletro-fusão, método pelo qual se transfere material genético de um embrião para óvulos sem núcleo celular, a fim de produzir novos embriões. Depois, os embriões clonados foram implantados em vacas para a gestação. Rumpf aprendeu a técnica no Canadá, em 1993, mas começou a concentrar-se em sua aplicação cinco anos depois, juntamente com sua equipe. “Começamos por criar um banco genético de embriões e óvulos, com a intenção de regenerar espécies em processo de extinção”, afirmou. Mais tarde, o projecto foi ampliado com o objectivo de obter animais transgênicos, isto é, com genes implantados, por exemplo, vacas que possam produzir leite semelhante ao humano ou com proteínas medicinais.
Actualmente, a equipe de Rumpf testa procedimentos mais complexos, como os empregados na Inglaterra no caso da ovelha Dolly, para clonar um animal adulto através da transferência de seu material genético para um óvulo sem núcleo celular. O Cernagen já aplicou essa técnica para produzir um clone que está em gestação, mas Rumpf teme que um aborto ponha fim a essa experiência, como ocorreu em outros. “Ignoramos as causas de tantos abortos”, admite José Antônio Visintin, chefe do Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Veterinária da Universidade de São Paulo e coordenador de um projecto semelhante.
Algumas dificuldades cruciais da clonagem são identificar as células mais adequadas para o processo e compreender “como funciona a máquina genética e como as células se multiplicam”, disse.
A isso deve-se somar a escassez de recursos para a pesquisa científica no mundo em desenvolvimento, acrescentou.

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